UEMASUL celebra a cultura e a resistência dos povos originários
Além das reflexões sobre as histórias e culturas indígenas, a programação também incentivou debates sobre a importância dos povos originários para a preservação do meio ambiente.
Durante décadas, a sociedade celebrou o Dia do índio de forma genérica, principalmente nos espaços escolares, desconsiderando a diversidade das mais de 300 etnias que vivem no Brasil. A pluralidade da cultura dos povos tradicionais tem promovido, ao longo dos anos, importantes mudanças na sociedade. Uma delas é a celebração do Dia dos povos indígenas, comemorado dia 19 de abril, que passou a substituir o “Dia do índio” após a aprovação da Lei nº 14.402/2022, que busca romper estereótipos e promover reflexões sobre a história desses povos que foram, por anos, silenciados.
Aprofundar sobre a cultura indígena, conhecer suas histórias, resgatar memórias e destacar suas peculiaridades é essencial para desconstruir a visão colonizadora que ainda são propagadas sobre os povos originários. Com o objetivo de celebrar a resistência dos povos ancestrais e promover a conscientização sobre a importância dos povos indígenas para a manutenção do meio ambiente, o Centro de Pesquisa, Arqueologia e História Timbira (CPAHT), da UEMASUL realiza, desde o início do mês, ações que visam impulsionar a visibilidade dos povos indígenas da região dentro e fora da instituição.
A chefe de divisão etnológica do Museu CPAHT, Aline Guajajara, reforçou a importância do reconhecimento da cultura indígena à nossa volta, quebrando preconceitos que ainda permeiam a sociedade. “Todos os anos fazemos o Abril indígena como uma forma de fortalecer os movimentos sociais e indígenas, mostrando para a sociedade ocidental as lutas dos nossos povos pela importância do território que é essencial para a difusão dos nossos rituais. O Abril indígena também tem como intuito desconstruir termos equivocados sobre as histórias e culturas indígenas e estereótipos que a sociedade ainda carrega que são relacionados aos povos originários”.
“A sociedade indígena foi uma das matrizes que fez parte da formação da sociedade brasileira, no entanto, a sociedade ocidental não leva isso em consideração. O currículo escolar e os materiais didáticos nos invisibiliza enquanto diversidade cultural e linguística. Por este motivo, se torno muito necessário que estejamos preenchendo os espaços de poder e decisão, de sermos protagonista de nossas histórias e culturas. É importante ressaltar também nossas lutas pelos direitos básicos: educação, saúde, moradia e território”, reforçou Aline.
De acordo com dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) 2022, quase 90% das cidades do país têm moradores indígenas. São quase 1,7 milhão de pessoas em 4.832 cidades por todo o país. Nos últimos anos a presença de indígenas em espaços importantes dentro da sociedade aumentou. Um exemplo são as matrículas de indígenas em universidades, o que representa uma mudança importante. Segundo dados da Excelência a Serviço do Ensino Superior (Semesp), houve um aumento de 374% de alunos autodeclarados indígenas no ensino superior no Brasil entre 2011 e 2021. A UEMASUL possui atualmente quatro estudantes indígenas, matriculados no campus Imperatriz.
O estudante do curso de Administração, Arinel Pa’Tep Krikati, destacou a importância da presença de indígenas no ensino superior. “Antigamente, nossos pais e avós não estudavam, mas eles tinham o pensar de dialogar e lutar. Hoje, a presença de indígenas na universidade é importante para que nós tenhamos o conhecimento básico de defesa e de lutar politicamente pelos nossos direitos, ter conhecimento nas leis e fazer mudança com a caneta”.
Programação
Durante todo o mês de abril, a UEMASUL promove, em celebração ao Dia dos povos indígenas, por meio do museu CPAHT, com minicursos, oficinas, palestras e rodas de conversas no intuito de reforçar a valorização e respeito dos saberes ancestrais dos povos originários e a importância dos povos para a manutenção do meio ambiente.
A palestra de abertura “Quanto da cultura indígena você reconhece à sua volta?” foi ministrada pela Aline Guajajara e pela arqueóloga Danielly Morais. O momento contou com a participação de mulheres indígenas dos povos Guajajara, Krikati e Gavião, da vice-reitora, professora Lilian Castelo Branco de Lima, do pró-reitor de extensão e assistência estudantil, professor José Milton Lopes Pinheiro, professores e alunos da educação básica.
Durante a palestra, a coordenadora regional da FUNAI, Edilene Krikati, reforçou a importância dos novos espaços que os povos indígenas têm ocupado na sociedade. “Hoje a gente está em um outro momento, que é o de protagonismo de nós, indígenas, sabermos quem somos, de onde viemos e o que queremos. O indígena da descoberta do Brasil não é mais o mesmo. Hoje, nós estamos na política, nos espaços públicos, nas universidades e nas escolas públicas também”.
Além das reflexões em relação aos termos equivocados sobre as histórias e culturas indígenas e alguns estereótipos que a sociedade ocidental ainda carrega, a programação deste ano também levantou debates sobre a importância dos povos originários para a preservação do meio ambiente. “Este ano, nós incluímos na programação uma forma de conscientização da manutenção do meio ambiente, porque se não cuidarmos, não haverá nem sociedade indígena nem ocidental”, explicou Aline.
Após a aprovação da Lei nº 11.645/2008, o estudo sobre a história dos povos indígenas tornou-se obrigatório nas escolas de ensino Fundamental e Médio. Para compartilhar práticas pedagógicas que promovam um ensino respeitoso sobre a cultura, saberes e contribuições dos povos ancestrais, foram promovidas oficinas, dentro e fora da instituição.
A estudante de Meio ambiente, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA) campus Imperatriz, Isabele da Silva Barroso, que participou da oficina “Amuleto rupestre”, destacou a relevância do curso. “Foi uma experiência muito importante que agregou muito no nosso conhecimento. A gente teve uma experiência prática, que podemos tocar na machadinha, por exemplo. Também conhecemos termos novos, desenhos, gravuras”.
A programação segue até o final do mês de abril com uma roda de conversa sobre a importância da memória como forma de resistência dos povos indígenas e o cine Cidadania, que exibirá o documentário “Somos guardiões”.
Identidade indígena no Maranhão
No Maranhão, a diversidade dos povos indígenas pode ser percebida por meio das crenças, das danças, dos artesanatos e dos rituais das diferentes etnias que vivem na região. O estado, que é o terceiro do Nordeste com a maior população indígena, de acordo com dados do censo do IBGE – 2022, possui 57.214 pessoas que se autodeclaram indígenas, distribuídas em aproximadamente 700 aldeias.
Atualmente, os povos indígenas que vivem no Maranhão pertencem às etnias: o povo Timbira, pertencente ao tronco linguístico Macro-jê, (Krikati, Krepumkateyê, Gavião Pykopje, Canela Memõrtrumre, Canela Apaynekrá), e o povo do grupo linguístico Tupi, (Guajajara – Tenetehara, Awá-Guajá e os Ka`apor).
Texto: estagiária Carolina Nascimento, com orientações da jornalista Mari Marconccine.
Fotos: Ascom/UEMASUL
Assessoria de Comunicação/UEMASUL
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